terça-feira, 6 de julho de 2010

A Carta Wentworth - Parte 3

No dia 6 de abril de 1830, a "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias" foi organizada pela primeira vez no município de Fayette, condado de Seneca, estado de Nova York. Alguns homens foram chamados e ordenados, pelo Espírito de revelação e profecia, e começaram a pregar conforme o Espírito lhes declarasse. Embora fracos, foram, contudo, fortalecidos pelo poder de Deus, e muitos foram levados ao arrependimento e imersos na água e encheram-se do Espírito Santo pela imposição das mãos. Tiveram visões e profetizaram, expulsaram demônios e curaram enfermos pela imposição das mãos. Desde aquela época, o trabalho progrediu com rapidez espantosa, e em pouco tempo formaram-se igrejas nos estados de Nova York, Pensilvânia, Ohio, Indiana, Illinois e Missouri; sendo que, neste último, uma cidade de tamanho considerável foi fundada no condado de Jackson. Muitas pessoas filiaram-se à Igreja e crescemos rapidamente. Compramos muitas terras, nossas fazendas prosperaram, e havia paz e alegria no seio de nossas famílias. No entanto, como não podíamos associar-nos a nossos vizinhos (sendo que muitos deles eram homens da mais baixa índole, que tinham fugido da sociedade civilizada para a região da fronteira a fim de escapar das garras da justiça) em suas folias noturnas, sua violação do dia do Senhor, suas corridas de cavalos e jogos de azar, eles começaram por ridicularizar-nos, depois a perseguir-nos. Por fim, reuniram-se em uma turba e queimaram nossas casas, cobriram de piche e penas e chicotearam muitos de nossos irmãos, e por fim, em oposição à lei, à justiça e a qualquer sentimento humanitário, expulsaram esses irmãos de suas próprias casas. Sem teto e sem abrigo, esses nossos irmãos tiveram que percorrer as pradarias geladas, a ponto de seus filhos deixarem um rastro de sangue pelo chão. Isso aconteceu em novembro, quando não tinham nenhum outro abrigo além do céu, nessa época inclemente do ano. Tais atos foram ignorados pelo governo, e embora possuíssemos a escritura de nossas terras e não tivéssemos violado nenhuma lei, não conseguimos obter compensação alguma pelos danos que sofremos.
Havia muitos doentes, que foram desumanamente expulsos de suas casas e tiveram que suportar todos esses maus-tratos e procurar abrigo onde fosse possível encontrá-lo. Em decorrência disso, muitos ficaram privados dos confortos e cuidados necessários à vida e vieram a falecer. Muitos filhos tornaram-se órfãos, as mulheres, viúvas e os homens, viúvos. Nossas fazendas foram apossadas pela turba, muitos milhares de bois, ovelhas, cavalos e porcos nos foram roubados e os bens de nossas casas e lojas, nossa máquina de impressão e os tipos foram quebrados, roubados ou destruídos de alguma forma.

Muitos de nossos irmãos mudaram-se para o condado de Clay, onde continuaram morando pelo período de três anos, até 1836. Não sofreram nenhuma violência, mas foram ameaçados. No verão de 1836, essas ameaças começaram a assumir uma forma mais séria. Houve ameaças, reuniões públicas foram convocadas, resoluções foram tomadas, ameaças de vingança e destruição foram feitas, e as coisas novamente assumiram um aspecto aterrador. Os acontecimentos do condado de Jackson constituíram um precedente importante, e assim como as autoridades daquele condado não intervieram em nosso favor, da mesma forma declararam que nada fariam neste condado; nossos apelos às autoridades provaram a veracidade dessas declarações. Após muitas privações e a perda de muitas propriedades, fomos novamente expulsos de nossas casas.

Depois disso, estabelecemo-nos nos condados de Caldwell e Daviess, onde fundamos grandes e amplas cidades, imaginando que nos livraríamos da opressão se nos estabelecêssemos em condados recém-criados, com pouquíssimos habitantes. Todavia, não nos deixaram viver em paz nesse lugar. Em 1838, fomos novamente atacados pelas turbas; uma ordem de extermínio foi promulgada pelo governador Boggs; e, com a aprovação da lei, um grupo organizado de malfeitores assaltou nossas terras, roubando nosso gado, nossas ovelhas, porcos, etc.; muitos dos nossos foram assassinados a sangue frio, nossas mulheres foram violentadas, e fomos forçados a assinar a transferência de nossas terras sob a ameaça de armas. Depois de suportar todas as indignidades que nos foram impostas por um bando desumano e ímpio de bandidos, mil e duzentas a mil e quinhentas almas, entre homens, mulheres e crianças, foram expulsas de junto de suas próprias lareiras e das terras das quais possuíam a escritura, para vaguear sem teto, sem amigos e sem lar (no meio do inverno), como desterrados, e procurar abrigo em um lugar de clima mais favorável e em meio a um povo menos bárbaro. Muitos adoeceram e morreram devido ao frio e as dificuldades que tiveram de enfrentar. Muitas mulheres ficaram viúvas e muitas crianças, órfãs e carentes. Seria preciso mais do que esta carta permite relatar para descrever as injustiças, os danos, os assassinatos, a matança, os roubos, a miséria e o sofrimento causados pelos acontecimentos bárbaros, desumanos e ilegais ocorridos no estado de Missouri.

Nas referidas condições, chegamos ao estado de Illinois, em 1839, onde encontramos um povo hospitaleiro e um lugar agradável de se morar: um povo disposto a ser governado por princípios legais e humanitários. Começamos a construir uma cidade chamada "Nauvoo", no condado de Hancock. Somos aproximadamente seis ou oito mil morando aqui, além de muitos outros espalhados pelo condado e em quase todos os condados do estado. Obtivemos o direito de promulgar uma carta constitucional da cidade e de criar uma legião, que atualmente se compõe de mil e quinhentos soldados. Recebemos também autorização para fundar uma universidade e uma Sociedade Agrícola e Manufatureira; temos nossas próprias leis e administradores e possuímos todos os privilégios desfrutados por quaisquer outros cidadãos livres e instruídos.

2 comentários:

  1. Carlos Augusto Malheiros7 de julho de 2010 às 09:21

    Muito interessante. Estou copiando a série. Gostaria de saber a origem do texto, e de quem foi a tradução. Está muito boa, ao que parece. Conhecemos a Carta Wentworth, em geral, apenas por sua relação com as Regras de Fé. Conhecê-la na íntegra é um upgrade no conhecimento da história da Igreja, por certo.

    grato

    Carlos A. Malheiros
    malheiros@ubatuba.sp.gov.br

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  2. Olá Carlos. Ao terminar as partes da Carta Wentworth, teremos um post falando mais sobre o assunto. Abração e obrigado pelo comentário!

    Moroni Lemes
    AnjoMoroni Brasil

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