Sobre abismos e morangos

Certa vez, disse o Buda uma parábola:

Um homem viajando em um campo encontrou um tigre. Ele correu, o tigre em seu encalço. Aproximando-se de um precipício, tomou as raízes expostas de uma vinha selvagem em suas mãos e pendurou-se precipitadamente abaixo, na beira do abismo. O tigre o farejava acima. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu, no fundo do precipício, outro tigre a esperá-lo. Apenas a vinha o sustinha. Mas ao olhar para a planta, viu dois ratos, um negro e outro branco, roendo aos poucos sua raiz. Neste momento seus olhos perceberam um belo morango vicejando perto. Segurando a vinha com uma mão, ele pegou o morango com a outra e o comeu. "Que delícia!", ele disse.


Não sabia bem o que escrever...mas queria escrever. Aí encontrei essa parábola que ouvi na oficina da Regina Machado (meus 3 encantadores dias *-*). Fiquei pensando nos abismos, nos tigres e nos ratos que roem a raiz das videiras. Que bom seria se eles não existissem, seria tão mais fácil...
mas não teria graça, não teria oposição, não teria propósito, nem aprendizado. Não existiriam provações nem crescimento. Felizmente existem também os morangos, aqueles, na raiz da videira. Aquele lado bom da situação ruim. Aquele sorriso que nasce onde parece não existir mais nada. Aqueles bons momentos que merecem ser vividos e apreciados. Mesmo que sejam tão pequeninos quanto um morango. Mesmo que exista um tigre, um abismo e dois ratos. O Élder Joseph B. Wirthlin disse: "Aconteça o que acontecer, desfrute." Encontrar as pequenas felicidades e fazer delas coisas grandiosas, saber encontrar, saborear e partilhar um morango. Acho que isso é o importante. É assim que mais sorrisos aparecem, é assim que mais amizades são feitas, é assim que coisas ruins perdem o seu espaço, é assim que biografias felizes são feitas, e é assim que acontecem bons momentos para serem lembrados. Espero que nunca desistamos de encontrar morangos, por menores que sejam, porque seria ainda mais difícil sem eles.

por Ana Paula de Andrade
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